sábado, 29 de janeiro de 2011

Presente!!!

Por Admarino Júnior



“_ Os homens de teu planeta cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o que procuram...”
“_ E, no entanto, o que eles procuram poderia ser encontrado numa só rosa, ou num poço de água.”
“_ Mas os olhos são cegos. É preciso ver com o coração...”


Bom, não é meu aniverssário e nem uma data comemorativa, mas ganhei um presente especial de uma pessoa muito especial. Ganhei o Livro do Pequeno Príncipe da senhorita um tanto quanto "chata"(risos) Érica Bittencourt. É com muito carinho que agradeço o presente!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Dois Jovens e um destino

Por Admarino Júnior

Olá a todos,

Continuando os relatos sobre a comunidade de remanescente de quilombos (São José da Povoação), tratarei de alguns aspectos históricos e sociais, nos quais esses afro-descendentes da comunidade em observação são os personagens principais através de narrativas, lendas ou histórias contadas de geração em geração.

As histórias que circulam na memória dos habitantes de São José da Povoação cuja ancestralidade remonta às sociedades mocambeiras ou quilombolas são um grande material para a preservação da memória, mesmo sujeita às mudanças profundas, estas ainda representam um vínculo entre o passado e o presente. Assim o estudo dessas lendas se justifica enquanto manifestações socioculturais onde contar uma história é reavivar o sentido da própria existência desses povos.

A primeira história que relatarei a seguir me chamou muita atenção, primeiro pela sua importância dentro da comunidade e segundo pelo caráter quase que novelesco e romântico da narrativa. Bom, é melhor deixar de suspense e ir logo ao que interessa.




DOIS JOVENS E UM DESTINO

Contam os moradores mais antigos que na vila São José da Povoação existia um casal que se amava muito, mas seu amor era proibido pelo fato de o rapaz ser negro e a moça branca. Os pais da moça não aceitavam o romance, apesar de não existir mais a escravidão e o rapaz já ser um homem livre. A moça pertencia a uma família de descendência portuguesa e os mais antigos não aceitavam que uma menina branca e prendada se apaixonasse por um negro analfabeto. Foi então que os dois resolveram fugir para viverem juntos. Saíram de canoa numa noite chuvosa com destino à cidade de Breves, que fica bem próxima à comunidade, mas eles se perderam na noite, pois estava muito escura e a Baía estava furiosa.

Quando os pais da moça ficaram sabendo do fato, reuniram outros homens da fazenda e foram atrás deles. Era madrugada e os dois jovens já estavam desesperados, pois viram que estavam totalmente perdidos, mas não demorou muito para serem encontrados. Os pais dela mais os trabalhadores que estavam à procura, acharam os dois jovens em um barranco, abrigados nas raízes e galhos de uma árvore na beira do rio.

No dia seguinte foi marcada audiência na frente dos pais, do juiz e do delegado na cidade, para saber como ia ficar a situação deles. Foi quando a moça disse que desistiria do rapaz, mas só se não conseguisse provar para todos que poderiam viver juntos, e que as cores “branca e preta” não precisassem uma da outra. Os pais disseram que era besteira que o branco não precisava do preto, mas mesmo assim aceitaram a condição da moça, pois estavam convictos que ela nunca ia conseguir provar nada. Quando chegou a hora da audiência ela levou consigo um pedaço de giz e outro de carvão, deram para ela a palavra, e ela disse novamente que só não casaria com ele se o preto não precisasse do branco e vice e versa. A moça pegou um pedaço de papel branco e riscou com o carvão e apareceu o preto no branco; depois riscou com o giz no papel e não apareceu nada. Assim ela conseguiu provar que as cores eram dependentes uma da outra.

O juiz ficou muito aborrecido com a perda de tempo e entregou o problema para ser resolvido pelo delegado da cidade. O delegado falou que o amor dos dois jovens era muito forte e que não tinha nenhum crime para prender o rapaz e nem porque separá-los. Os pais ainda tentaram dizer que o rapaz havia roubado a moça e enfeitiçado ela com alguma mandinga, mas a moça que já era maior e ainda dependia da família, desmentiu tudo o que os pais falavam. Como a filha tinha feito uma espécie de “aposta” com os pais e estes não tendo outra saída resolveram voltar para a comunidade e aceitar a sua derrota. A filha surpreendeu seus pais que foram forçados a mudar de opinião em relação ao romance e decidiram casar os dois. Contam os mais antigos que depois do casamento a família foi embora da povoação e a moça permaneceu no povoado ao lado do seu marido.

INTERPRETAÇÃO E SIGNIFICADO DA NARRATIVA

“Dois jovens e um destino” é uma história que conta a vida de um casal que se ama, porém os dois jovens esbarram no preconceito da família da moça, pelo fato do rapaz ser negro, analfabeto e pobre. Os dois tentam fugir para viver sua história de amor, mas são perseguidos pelos que representam a sociedade: a família, a comunidade e a lei. Essa lenda nos mostra aspectos da real situação dos negros, pois apesar da narrativa ter quase dois séculos, muitas pessoas acabam tornando-se preconceituosas e racistas com os mais pobres e com os afro-descendentes.

Em nossa sociedade algumas práticas que parecem “ingênuas” e sem intenção ofensiva acabam por se caracterizarem como racistas: achar que toda pessoa negra é inferior; achar que toda pessoa negra é feia, pouco inteligente; contar piadas humilhantes sobre negros e achar que não é prejudicial; achar que os negros vão praticar alguma violência, roubar, matar, ensinar vícios e coisas ruins para outras pessoas; não querer que uma pessoa de sua família namore, dance ou case com negros; proferir apelidos humilhantes e pejorativos aos negros - esses são algumas formas de racismo. Alguns desses estigmas aparecem na narrativa e são desmentidos pela esperteza da jovem mostrando que é possível viver todos em condições harmoniosas e de igualdade.


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Obs: Todas as informações, fotos, relatos colocados neste blog tem plena autorização e concenso
para divulgação.
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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Remanescentes de Quilombos.

Por Admarino Júnior

Olá a todos.

Bem, dando continuidade a viagem que estou realizando pela costa sul da Ilha do Marajó_Pará, tive a suntuosa, inefável e prazerosa oportunidade de conhecer uma comunidade de remanescente de Quilombos chamada de São José da Povoação, um pedaçinho da África no Marajó.

Desejoso de saber, interrogo”. A frase do grego Heródoto (considerado o pai da História) demonstra bem o meu sentimento em conhecer e relatar outras culturas, haja vista que nessa viagem usei o meu lado de quase Historiador e para tentar mostrar um pouco sobre a História, o cotidiano, a vida e as práticas culturais desta comunidade a todos.



A comunidade São José da Povoação localiza-se à margem esquerda do Rio Mutuacá, cerca de 80 km do município de Curralinho, Marajó, Estado do Pará, aproximadamente quatro a cinco horas de viagem dependendo da embarcação e da maré. De acordo com relatos, São José da Povoação é assim chamada por ter recebido este nome de uma sinhazinha vinda de Portugal que era devota de São José, mas não se sabe ao certo qual a data de sua fundação.

Segundo informações coletadas com os moradores mais antigos, São José da Povoação é uma comunidade constituída por afro-descendentes trazidos pela Família Rezende (portugueses) para substituir os índios que na época (século XIX) já eram poucos numerosos e não se adaptaram às tarefas caseiras e de trabalho no campo. Dentre esses informantes destacam-se os mais velhos, sr. Orlando (78 anos), sra.. Raimunda(80 anos)e a sra. Maria Madalena (69 anos). Pessoas super amigáveis, receptivas e repletas de histórias para contar.



A comunidade hoje é composta quase que por 100% de negros, que vivem da atividade rural, que aproxima homens, mulheres e crianças em seu convívio, seja no trabalho, na roça, nos igarapés, nos campos, nas práticas religiosas, nas conversas à sombra das árvores, enfim, em todos os momentos do seu cotidiano. Tudo poderia ser tranqüilo, uma vez que a comunidade São José da Povoação é um cantinho do Marajó esquecido. São em verdade um povo sofrido e lutador.

Devido às dificuldades em conseguir recursos para melhorar suas condições de vida, os moradores decidiram se organizar e criar a Associação dos Quilombolas do Rio Mutuacá, através dessa organização conseguiram melhorar a merenda escolar durante certo período, mas infelizmente por descuido do governo público (por falta de prestação de contas da administração) o benefício foi cancelado.



Mesmo assim os habitantes não se deixam esmorecer e vão à luta cotidianamente. Eles não estão inseridos no avanço da tecnologia e nem se influenciam pelo uso de máquinas modernas. Seus métodos de trabalho são tradicionais. As casas de farinha são de terra batida cobertas de palha, não existe motor, todo processo é manual, do plantio da maniva à produção da farinha.



Seus mitos, crenças, religiosidades, contos, folclore são diversos e imensuráveis. Aos poucos vou postar algumas Histórias que permeiam o imaginário dessa comunidade que em muitos casos nos leva a pensar o quão é importante preservar e respeitar suas memórias. É tanta coisa pra relatar que me deixa entusiasmado.

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Obs: Fotos de Admarino Júnior
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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Festival (Ao ritmo do Brega)

Por Admarino Júnior


Em se tratando em manifestação cultural, a dança do carimbó não é a única que está presente nos festivais do Marajó. O brega, ritmo musical genuinamente Paraense, é comum nas atrações desejada pela população. Tive o prazer de conhecer duas bandas de brega bem conhecida pelos marajoaras. Uma se chama "Sabor do Pará" e a outra "Banda Super Gil". As duas fazem a diversão de todos que frequentam a arena do festival.


Dançar o brega é um desafio para qualquer pessoa. Haja vista que o ritmo está cada vez mais acelerado e com passes de danças acrobáticos, em muitos casos. Porém, é um ritmo bastante contagiante e que leva os espectadores ao climax das festas.
Quem se interessar em conhecer mais sobre a História do Brega pode ler o livro intitulado "Festa na cidade: o circuito bregreiro de Belém do Pará" do Historiador Maurício costa (editora EDUEPA). È uma excelente obra para saber mais deste ritmo que contagia os paraenses e, neste caso, os Marajoras.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A dança do Carimbó

Por Admarino Júnior


"Maçariquinho da beira da praia como é que mulher roda a saia é assim, é assim, é assim, o lê lê é assim que mulher roda a saia"

Observando um evento (que a população chama de festival) com diversas apresentações artísticas, destaca-se a dança do Carimbó que é muito apreciado pelos Marajoaras pelo seu ritmo de batuque que contagia os espectadores. No Marajó existem diversos grupos folclóricos que se apresentam de lugar em lugar dançando sempre o Carimbó e outros ritmos musicais que permeiam os dias festivos deste povo.

A Dança do Carimbó: a mais extraordinária manifestação de criatividade artística do povo marajora foi criada pelos índios Tupinambá que, segundo os historiadores,inicialmente era apresentada num andamento monótono, como acontece com a grande maioria das danças indígenas. Quando os escravos africanos tomaram contato com essa manifestação artística dos Tupinambá começaram a aperfeiçoar a dança, iniciando pelo andamento que , de monótono, passou a vibrar como uma espécie de variante do batuque africano.

Por isso contagiava até mesmo os colonizadores portugueses que, pelo interesse de conseguir mão-de-obra para os mais diversos trabalhos, não somente estimulavam essas manifestações, como também, excepcionalmente, faziam questão de participar, acrescentando traços da expressão corporal característica das danças portuguesas. Não é à toa que a "Dança do Carimbó" apresenta, em certas passagens, alguns movimentos das danças folclóricas lusitana
s, como os dedos castanholando na marcação certa do ritmo agitado e absorvente.

A denominação da "Dança do Carimbó" vem do titulo dado pelos indígenas aos dois tambores de dimensões diferentes que servem para o acompanhamento básico do ritmo. Na língua indígena "Carimbó" - Curi (Pau) e Mbó ( Oco ou furado), significa pau que produz som.

Na manifestação da dança todos os dançarinos apresentam-se descalços. As mulheres usam saias coloridas, muito franzidas e amplas, blusas de cor lisa, pulseiras e colares de sementes grandes. Os cabelos são ornamentados com ramos de rosas.

Os homens apresentam-se com calças (de diversas cores) e camisas do mesmo tom , com as pontas amarradas na altura do umbigo (ou sem a camisa)

Com tudo isso pronto, é só rolar o carimbó que todos ficam alegres, dançando e se divertindo


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