sábado, 19 de fevereiro de 2011

Bruno de Menezes, poeta singular das letras paraenses.

Entrevista com José Denis de Oliveira Bezerra (mestre em Letras, Estudos Literários pela UFPA e professor de Literatura Amazônica da Universidade do Estado do Pará).

P - Quem foi Bruno de Menezes e qual a importância de sua obra para a Amazônia?

José Denis - Bruno de Menezes foi um poeta singular das letras paraenses. Nasceu em Belém no dia 21 de março de 1893. Seu pai, Dionízio Cavalcante de Menezes, era pedreiro e sua mãe se chamava Maria Balbina da Conceição Menezes. Passou a sua infância no bairro do Jurunas, periferia da cidade.

Escreveu várias obras, entre prosa e poesia, sendo reconhecido pela grandeza poética de Batuque, inicialmente publicado no livro “Bailado Lunar”, em 1924, e depois lançado em 1931 como obra independente.

A obra poética de Bruno de Menezes, principalmente "Batuque" (1939), é de grande importância para as artes literárias da região amazônica por desvelar na linguagem lírica elementos culturais desse espaço, que é formado por várias culturas distintas, entre elas a européia, a indígena e a africana. São esses signos que o poeta trabalha em sua poesia, numa linguagem moderna.

P - É correto afirmar que Bruno de Menezes é um dos pioneiros do Modernismo na Amazônia? A que grupo de intelectuais ele pertencia?

José Denis - Sim, é correto. Quando falamos em Modernismo na Amazônia, principalmente no Pará, temos que ter em mente dois principais grupos de intelectuais: o de Bruno de Menezes, chamado de “Peixe Frito”, e o de Francisco Paulo Mendes e Benedito Nunes, denominado de “Café Central”.

O primeiro reunia-se no Ver-o-Peso e tinha como componentes Abguar Bastos, Bruno de Menezes, Jacques Flores e outros, que tinham a preocupação de valorizar os elementos da cultura local, despertado por um sentimento nativista, de exaltação das belezas da região, além de revelar na poesia o cotidiano de Belém, da Amazônia, como fez Mário de Andrade em São Paulo e Gilberto Freire no Nordeste.

P - O que se pode dizer sobre a música e a dança, também presentes em suas obras?

José Denis – São elementos fundamentais na caracterização da poética de Bruno de Menezes. O tambor é um instrumento de convocação ritualística, presente nos rituais afro-brasileiros, representando também o clamor pela luta contra as violências que a cultura do negro sofreu. Além disso, esses recursos são também marcas do estilo simbolistas que o poeta mantém na obra Batuque.

P - A obra de Bruno de Menezes se enquadra na atualidade ou apenas nos faz refletir sobre o passado, sobre a história do Brasil?

José Denis – A obra de Bruno se enquadra na atualidade porque retrata a nossa cultura, a nossa religiosidade, nossas festas religiosas, nossas ervas, mandingas e cheiros. Mas acima de tudo ainda rufa o batuque da luta contra as desigualdades e as discriminações sociais presentes no Brasil.

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Fonte:
entrevista produzida pelo Banco de Informações da Rede Cultura de Comunicação do Pará.

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