quarta-feira, 3 de março de 2010

RESENHA

Por Admarino Júnior e Rafael Santos


DELGADO, Lucília de Almeida Neves Diretas-Já: vozes das cidades. In: FERREIRA, Jorge. REIS FILHO, Daniel Aarão (Orgs). Revolução e democracia, 1964... Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

Diretas-Já:Vozes das cidades procura abordar como ocorreu toda movimentação histórica no Brasil para o restabelecimento das eleições diretas para presidente. Lucília Delgado nos mostra toda a configuração nacional que ocorreu no dia 25 de abril de 1984 e, frisa especialmente, na manifestação das vozes da sociedade brasileira.

Tais vozes significavam o anseio popular por uma transformação política o que conforme Delgado foi o maior movimento cívico-popular da história republicana do Brasil. A campanha Diretas-Já reunião os principais partidos políticos opositores ao regime civil-militar e também, vário setores da sociedade.

Suas principais características, segundo a autora, foram à heterogeneidade (devido o conjunto diverso de agentes históricos envolvidos) e a despersonalização ( relacionado a discordância entre os membros do Comitê Partidário Pró-diretas, uns optavam pela negociação e outros pela ruptura gerando discordâncias nos acordos e ações).

Apesar das divergências existentes, tudo girava em torno de um objetivo principal que era a restauração da democracia e das liberdades no Brasil. Lucilia Delgado aduz sobre a “festa” gerada pela população que tornavam a campanha pelas Diretas cada vez mais consubstanciada, que tornava-se “uma comunhão nacional entre instituições e movimentos populares” (p. 419).

Por mais que a emenda Dante de Oliveira não tenha sido aprovada, o processo histórico concretizado com ela já havia se iniciado. A trajetória política democrática brasileira já não seria interrompida. A década de 80 mostrou uma crescente pressão para redemocratização do país, os acontecimentos nesse período representam a vontade da população brasileira que desta vez não faltou ao encontro.

No dia 26 a turba heterogênea formada por partidos e organizações da sociedade civil se dissolveu, mesmo assim, formar-se-ia pouco tempo depois outra festa na política, quando milhares de brasileiros fazem campanha para eleições indiretas para presidente.

A Ditadura já estava com seus dias contados. Inflação alta, dívida externa exorbitante, desemprego, expunham a crise do sistema. Os militares, ainda no poder, pregavam uma transição democrática lenta, ao passo que perdiam o apoio da sociedade, que insatisfeita, queria o fim do regime o mais rápido possível

Assim, o movimento das Diretas Já ressuscitou a esperança e a coragem da população. Além de poder eleger um representante, a eleição direta sinalizava mudanças também econômicas e sociais. Lideranças estudantis, como a UNE (União Nacional dos Estudantes), sindicatos, como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), intelectuais, artistas e religiosos reforçaram o coro pelas Diretas Já.